As palmeiras não são mais as mesmas
As palmeiras não são mais as mesmas. E nos sulcos das margens gastas do que foi escrito para ti flamejam lentamente as imagens do que consentiste deixar para trás. Desta vez para os outros.
O suficiente para domar o que se desmantela a cada investida do sol sobre os galhos de cinza que se desprendem sobre versos mudos, ausentes de compasso, sob as luzes vermelhas, deitados sobre a relva.
Foste tu que os adormeceste aqui.
Como clarão que deu figura à sombra, o meu nome era em ti luz frágil, a dúvida construída com raízes e braços. Só não sabia que o espaçamento entre linhas se ia entrecortando a cada passagem das nuvens sobre o mar.
Que pelo meio se escondia o aviso do final que não antevi. O abandono ensaiado no intervalo entre a múltiplas vírgulas e um ponto final.
O passado virou labirinto sem saída nem entrada. E o que era tinta do meu sangue foi rasurado pela distância medida em sal, em múltiplas travessias que acabavam sempre no mesmo sítio.
Ao mesmo tempo que formulavas palavras no meu peito, aprendeste a linguagem demorada da espera, sem saberes o quanto eu ainda te escrevia por dentro.
E quando finalmente te deixei, virei todas as páginas para o lado escuro, como quem fecha de vez um livro subtraindo todos as passagens por ler, deixando um rasto da culpa que ainda me morde os lábios salpicado pelo chão.
Ficou manchado.

